domingo, 24 de novembro de 2013

Alguma coisa se perdeu no deserto

Oi, doutor.
Até que as coisas estão mais ou menos. Vim aqui só para conversar mesmo.
Estava lendo uma reportagem sobre a rua dos Guaicurus. Li que, quando colocam uma luz vermelha no quarto, é porque tem uma novinha lá, também chamadas de "brotinho".
Ah, doutor.. eu ri demais quando li isso. "brotinho".
Aquela risada meio desanimada né, mas ainda assim foi uma risada.
Me estampou um leve sorriso no rosto por alguns segundos. "brotinho".
Mas depois eu fiquei de novo olhando para o horizonte do deserto.
Não muda muita coisa, não é mesmo?

Pois é, doutor. Alguma coisa se perdeu no deserto no final de 2007. Faz muito tempo né.. e é praticamente impossível encontrar de novo.
Naquela época, não parecia que estávamos fazendo interrogatórios por aí. Era tudo quase natural. As pessoas vinham falar com a gente, lembra, doutor?
Naquela época nós simplesmente não sabíamos tratar isso. Quantas oportunidades perdemos?
Hoje nós saberíamos perfeitamente o que fazer e faríamos grandes conquistas! mas o tempo acabou, não é mesmo? agora nós estamos aqui, doutor, no deserto.
Estamos aqui, eu e você.. sendo que você é apenas uma voz na minha cabeça, e uma voz muda.
Sozinhos no deserto.
Não sei o que se perdeu, doutor. Além de nós mesmos, é claro.

Realmente, doutor. Ainda tenho aquelas recaídas de vez em quando.
Mas as férias estão chegando, doutor, em breve estaremos de férias.
Você acha que tudo vai ficar bem, doutor?
Vou me cobrir com a areia do deserto e apoiar minha cabeça nesta pedra.
Vou ficar deitado aqui olhando para este céu absurdamente estrelado.
Como o chão está frio, doutor.
Amanhã conversamos mais, vou ficar aqui em silêncio admirando as estrelas, doutor.
Pode ir dormir se quiser, doutor, não vamos mais conversar hoje.
Vou ficar aqui. Olhando aquelas estrelas.
Tantas delas possuem planetas, doutor.
Alguns deles possuem mais de um habitante.
Diferente daqui no deserto, né?
Boa noite, doutor.

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