Então, mais um aniversário.
Eu odeio tudo, todos, eu e você.
E eu estou morto.
Mas, isso não significa que eu esteja morto, e nem que eu odeie tudo, todos eu e você.
Mas eu odeio e estou.
Eu finjo o tempo todo.
Minha cabeça é como uma televisão em Júpiter, celebrando a estática sem sentido da radiação cósmica estocástica.
Para eu ser considerado oficialmente morto agora, é só uma questão de formalidade.
Mas, não que alguma coisa esteja ruim, não, está tudo ótimo.
Tudo ótimo.
É como se as fezes voassem espontaneamente em nossos rostos.
Sem nem precisar pagar.
Nem precisar pagar.
Olhem pra mim!
Eu sou completamente invisível!
Invisível, imperceptível.
Eu fiz mais um aniversário.
Agora eu tenho 24 anos.
Acho que eu preferiria não ter feito.
Ou feito mais tarde, de tardinha, quando o sol já tivesse mais fraco.
E a vida menos viva.
E o ar mais rarefeito.
E a terra mais etérea.
E a luz mais escura.
E a temperatura mais fria.
A vida que escorre vermelha de meus ouvidos pinga no chão e fertiliza a terra.
Dela nascem os seres.
Os seres do outro mundo.
Ou dos outros mundos que só existiam na minha cabeça.
E que vão pingando pelos meus ouvidos.
Até que a carcaça que sobre totalmente sem vida saia flutuando errante,
Morto.
Os guarda chuvinhas que saem de meus olhos alimentam as abelhas gigantes cujas asas davam origem ao universo que ninguém jamais ouviu falar.
Minhas mãos finas e quebradiças atravessam tudo o que tocam, pois não mais se movem fisicamente, apenas nas memórias daqueles que já as viram antes.
Meu pescoço entrincheirado canta mais contente, sem precisar se preocupar com os fluxos de ar, sangue, urina e tudo mais.
Meu sangue fica mais leve e correto com todos os venenos cotidianos que tando fedemos e amamos.
Parabéns pra mim.
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