sábado, 27 de abril de 2019

A subida

Ontem estávamos em uma subida, em uma pedalada de 100 km.
De fato, não é um momento em que costumamos escrever coisas muito bonitas, e nem coisas muito felizes.
Mas, por mais arduas que sejam algumas subidas, elas logo nos levam a um ponto elevado, de beleza estarrecedora e de descidas emocionantes nas quais simplesmente voamos.
E hoje foi um belíssimo vôo, por lugares onde eu jamais estive, com belezas que eu mal podia imaginar que existiam.
E eu simplesmente me sinto grato por tudo que passei até chegar aqui.
Tudo de bom e tudo de ruim.
Grato pelas cartas que trocamos.
As cartas felizes, e as tristes.
Grato por estar tão vivo... e em órbita da lua!

E continuo tentando

Deixei minha cabeça cair.
Ela atravessou o chão e começou a ver algo que eu nunca tinha visto antes.

Debaixo do chão tinha um céu estrelado numa noite fria.
Mas minha cabeça foi caindo e caindo tão rápido.
O vento começou a soprar tão forte que foi aquecendo meus olhos.
Meus cabelos começaram a pegar fogo.
Meu cérebro ferveu e eu comecei a pensar coisas que eu nunca tinha pensado antes.

Naqueles pensamentos tinha uma garota que gostava de mim como eu gostava dela.
Algo tão estranho que logo pensei que era um sonho.
Começamos a namorar tão forte que foi aquecendo o meu corpo.
Minha pele começou a pegar fogo.
Meu sangue se desfez em fumaça e eu comecei a fazer coisas que eu nunca tinha feito antes.

Eu peguei o meu telefone e comecei a discar o telefone daquela garota.
Mas eram tantos números que o disco estragou antes que eu conseguisse completar a ligação.
Peguei outro telefone e continuei tentando.
E meus dedos foram quebrando um a um enquanto eu insistia cada vez mais.
Logo minhas mãos estavam mutiladas e eu comecei a escrever coisas que eu nunca tinha escrito antes.

De tanto ler as coisas que eu mesmo escrevia, minhas ideias entraram em loop.
Não conseguia sair dali e logo meu cubículo estava tão pequeno que eu morri esmagado.

Mas eu continuei tentando.

A dança

Neste universo flutuamos.
Torcendo para que nenhum detrito nos atinja fatalmente.
Em meio a uma nuvem de detritos viajando a velocidades absurdas.
Mas, o universo é muito grande, não é mesmo?

Hipnotizado pelos ouvidos, dou mais um passo.
E outro passo e outro.
Volto um, mudo de direção.
Bato a cabeça na parede com muita força.
Caio no chão e começo a bater a cabeça no chão.
Bato o nariz no chão até perder a consciência.

Acordo meio atordoado sem saber bem o que aconteceu.
Mas, estou aliviado.
Vejo muito sangue no chão e fico feliz.
Pois aí me vem aquela lembrança que eu gosto.

Danço sozinho no meu quarto trancado.
Respiro pesadamente, mas tranquilo.
Dou mais um passo.
E outro passo e outro.
Volto um, mudo de direção.

E aquela agenda?
É uma agenda apertada.
Tento adicionar uma entrada.
Levo um soco tão forte na cara que fico inconsciente imediatamente.
E flutuo pelo universo.

Eu escuto a música que só eu escuto.
Eu vou no lugar que só eu vou.
Eu uso a droga que só eu uso.
Eu pulo do viaduto que só eu pulo.

Dou mais um passo.
E outro passo e outro.
Volto um, mudo de direção.

Dançando pelo viaduto.
Que só eu pulo.
Eu pulo do viaduto com uma corda amarrada no pescoço.
Eu danço sozinho no meu quarto trancado.

Acordo do meu transe violentamente.
Choro desesperadamente.
Pego meu lápis.
Vou tentar novamente...

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Crise

Oi doutor..
Aqui estou eu de novo..
Hoje eu estive meio sensível, doutor.
Desabei de chorar, desesperadamente, de um jeito que eu não fazia há bastante tempo.
Não creio que seja a deprê.. na verdade, a deprê não me faz chorar.. quando ela ataca é muito pior.
Enquanto ainda choro eu sei que ainda estou fora de risco.
Também não é nada com a lua. Nem quis falar nada com ela, pra ela não ficar preocupada.
Acho que só estava com algumas coisas acumuladas..
O forever, a amiga da amiga que se foi pela churrasqueira, as novidades que andam acontecendo..
Enfim, já estou melhor, doutor, não precisa ficar preocupado.
Vou tratar isso melhor na consulta dessa semana.
Já estou bem melhor agora.. Já estou conversando normalmente..
Vai passar, doutor.. acho que eu precisava desse desabafo.
Obrigado, doutor!
Até mais, nos vemos em breve!

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Forever

Oi doutor..
Faz tempo que não conversamos.
Hoje o meu dia pelo geral foi muito bom.
Pedalei 100 km para voltar de Ouro Preto para casa.
E ainda tive disposição para ir em um show de noite.
Me senti em minha plena potência física.
Mas, no sentido mental, por mais que eu tenha tentado muito.. não consegui escapar do forever à noite, doutor..
Sei o quanto estamos trabalhando nos últimos meses, mas, essa noite ele foi mais forte do que eu.
Não é nada muito grave, doutor.. sei que é apenas passageiro.
Na terapia, já conversamos sobre o que devemos fazer quando ele toma o controle.
Porque sempre vai acontecer.. ele não tem cura..
Apenas coletemos cada lágrima em um potinho, doutor, para que possa ser racionalmente estudada, entendida.. que cada uma tenha seu lugar, sem ser reprimida e nem desmerecida.
Que seja uma chuva, natural, e até de certa forma saudável. E não uma enchente que nos afogue, como costumava ser.
Deixemos chover, doutor..
Sejamos pacientes que logo essa chuva passa..
E que então possamos contemplar as estrelas e a lua!

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Bebé luna

Olha só para mim...
Pensamento distante.
Viajando pelo espaço.
Escutando as músicas mais bregas escritas pela humanidade.
Totalmente inebriado.
Olhando as fotos que eu tirei de você ontem.
Sorrindo incontrolavelmente..

Como você conseguiu me desarmar deste jeito?

A exposição de arte

Hoje tinha uma exposição de arte no céu.
Peguei minha nave espacial e fui pedalando até sair da atmosfera.
Chegando lá, vi a obra de arte mais bela que já vi na vida.
Não que não a tenha visto antes, de longe.
Mas, dessa vez, seu brilho estava tão intenso que, nem toda a minha escuridão foi capaz de afastá-la de mim!
Tão intenso!
Nada de mal que eu tivesse em mim seria capaz de impedir que finalmente nos encontrássemos!
E nos tocássemos!

Assim foi o dia em que finalmente eu e a lua nos tocamos!
Incrível.. um tanto quanto inesperado sim, mas, tão profundamente bom!

E eu ainda sigo flutuando pelo espaço.. sem saber com certeza se foi um sonho ou se realmente estávamos lá um para o outro, naquele momento singular e presente, onde não importava muito passado ou futuro.