quarta-feira, 12 de junho de 2019

A minha cabeça é, sem vontade, um reator nuclear

Eu sento na calçada e fico olhando os pombos comerem o meu cérebro esparramado pela rua.
Me levanto meio tonto e escorrego em um punhado de fezes de gato.
Caio no chão.
Minha cabeça se abre e meu cérebro se esparrama pela rua.
Eu me sento na calçada e fico olhando os pombos comerem o meu cérebro esparramado pela rua.

Sigo andando em círculos e tudo fica girando na minha cabeça.
Girando e girando e girando...
Em loop.
Gotas de água que soam como trovões pingam sobre meus ouvidos:
 - Sem vontade.
 - Sem vontade.
 - Sem vontade.
 - Sem vontade...

O som vai ficando difícil de distinguir ao passo que minha visão vai se desfazendo e dando lugar à cabeça de uma lagarta gigante perpassando as nuvens num céu azul com um sol lá em cima e outro lá em baixo.
E eles ficam trocando de lugar, girando um ao redor do outro, e girando e girando e girando...

Me jogo de cabeça em baixo das rodas de um ônibus que passa correndo.
Minha cabeça se abre e meu cérebro se esparrama pela rua.
Eu me sento na calçada e fico olhando os pombos comerem o meu cérebro esparramado pela rua.

E tudo fica girando e girando e girando e girando e girando e girando e girando...
Estou ficando tonto.
Me tranco sozinho em um lugar totalmente escuro e começo a chorar.
Abro os olhos e minha mãe me pergunta se eu estou bem, porque eu estou parecendo meio desanimado.
Ainda bem que eu deixei a porta destrancada!
Eu saio correndo para a porta!
Eu abro a porta!
Saio correndo pela rua!
Mas, acabo escorregando em um punhado de fezes de gato.
Bem na hora em que passava um ônibus correndo.
Dessa vez eu perdi o ônibus, porque caí no chão.

Minha cabeça se abre e meu cérebro se esparrama pela rua.
Eu me sento na calçada e fico olhando os pombos comerem o meu cérebro esparramado pela rua.
Sem vontade.

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