Visto de longe

Pois é, isso tudo deve ser muito engraçado visto de longe.
Este planeta em que viajo agora possui uma diversidade incrível.
Num instante está tudo brilhante e movimentado, pra logo então vir uma grande ventania, alguma força abala toda a estrutura local e então estamos passando por algum vale sombrio e solitário.
Eu acho que isto tem alguma coisa a ver com a maré.
Neste momento eu estou passando por um deserto acinzentado e com pouca visibilidade. Fico meio inibido e desesperado, mas por mais que já andei quase morrendo, nunca parei de caminhar e agora, mesmo instantaneamente desanimado, continuo em frente para ver o que haverá quando o grande nevoeiro cinza passar.
Incrível como há apenas alguns dias tudo estava tão bonito. Não é que as perspectivas eram boas, mas era como se eu estivesse um tanto quanto conformado e tudo estava mais calmo e confortável.
É claro que esta calmaria vista de longe deve ser muito entediante. O público precisa de drama, de confusão, de inquietude, de intensa atividade mental!
E por isto chegam as marés. As marés vêm levemente para retirar o floco de neve da base da montanha e então ocorre a avalanche. O que as marés fizeram? Absolutamente nada. Sério mesmo, elas realmente não fizeram nada, com toda a vastidão imensa e vazia do significado literal da palavra. Ou quase isso, talvez alguma coisinha sem importância. A culpa é totalmente minha. A minha mente é que começa a explorar as possibilidades e aí vai desembestando tudo até chegar à saturação. E talvez aí venha a calmaria novamente. Porque tudo simplesmente trava, dá erro de overflow. Tudo se reinicia. Tudo está calmo, confortável, brilhante, movimentado, bonito..
Talvez eu esteja simplesmente andando em círculos. Ou talvez este planeta seja mesmo uma pequena bolinha onde eu caminhe e caminhe para sempre acabar no mesmo lugar. Mas eu, por algum motivo continuo caminhando.
Um pontinho quase invisível se movendo lentamente por aquele mundo estranho.
Mas tudo isto, é claro, deve ser muito engraçado visto de longe.