Era um belo dia no deserto, mas o andarilho não estava satisfeito.
Ele estava sofrendo uma crise mental, sua vontade de sair do deserto o consumia.
Tantos rostos passavam por sua cabeça, tantas formas de se construir uma nave e sair dali, tantas coisas legais para se fazer, num universo tão grande a ser explorado!
Ele gritava diversos nomes insanamente.
Suplicando para que qualquer um pudesse ouvir!
E quando ele finalmente se calou, ofegante, pôde ouvir o eco de seus próprios gritos refletido nas montanhas, e logo após, o silêncio.
Não havia ninguém naquele planeta que pudesse responder o seu chamado.
Até mesmo o vento aos poucos se calou.
Agora ele nem podia ouvir a própria respiração, ou os batimentos do coração.
O silêncio recaiu sobre ele como uma terrível maldição, como se fosse a mais pesada das pedras do deserto.
De fato, o silêncio foi tão pesado, esmagador, desesperador, vazio, que ele não aguentou e caiu de joelhos no chão do deserto, de cabeça baixa, com um aperto no peito que o impedia de respirar, tudo foi ficando cada vez mais escuro.
Aos poucos, o vento retornou, como quem tivesse perdido a curiosidade e voltado ao seus afazeres.
As aves do deserto voltaram a gritar secamente.
Sua visão voltou aos poucos a fazer sentido: via o infinito chão de areia tocando o céu azul quase branco no limite do horizonte.
Sua respiração ruidosa começou a ser sentida novamente.
Ele se levantou, fechou os olhos, respirou fundo e gritou, desta vez, não um nome em específico, mas uma manifestação de solidão, frustração e desespero!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!...
A terra começou a tremer.
Seus pés começaram a levantar do chão.
Ele foi rapidamente ganhando velocidade vertical.
O andarilho agora acelerava como um foguete para longe do deserto! Além da velocidade do som! O ar se ionizava ao seu redor, tamanha energia de sua fúria! Raios poderosos partiam dele em todas as direções!
A medida que ganhava altitude, a atmosfera foi ficando extremamente rarefeita e todos estes efeitos foram desaparecendo.
De uma vez, ele parou de gritar e olhou para baixo.
O planeta deserto tinha ficado para trás, e ficava cada vez menor no espaço sideral.
Ele havia conseguido sair, sem nave, sem nada, apenas de sua fúria e força vontade.
O andarilho foi tomado por uma alegria que ele não conseguia se lembrar de ter sentido antes.
Finalmente não seria mais um andarilho solitário no deserto, mas sim um viajante do universo.
Estendeu para cima o braço com o punho fechado e pôde sentir sua velocidade aumentar cada vez mais.
Não ficaria mais sozinho, pois, com este novo poder, ele poderia ir até quem ele quisesse!
Mas, poderia haver um final feliz para a história deste castigado andarilho?
Aos poucos, aquele breve sonho foi se desfazendo.
O sorriso ainda estava em seu rosto, mas o sol queimava seus olhos.
Ali estava o andarilho, deitado no chão de barriga para cima, o chão do seu tão conhecido deserto.
Parecia tão real, mas não passava de mais uma ilusão.
Um colapso mental originado de uma vontade infinita porém impossível.
Impossível?
As palavras "Nada é impossível" passaram por sua mente.
O andarilho agora tinha um sonho, ele viu seu sonho, conheceu seu sonho.
Chega de silêncio, o andarilho vai correr atrás deste sonho.
E se ninguém for com ele, então como sempre, ele vai sozinho!
sexta-feira, 19 de junho de 2015
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