terça-feira, 30 de abril de 2013

Apenas uma noite

A professora do primeiro horário havia faltado. Ele estava sentado sozinho, um pouco estressado, solitário e ansioso esperando dar a hora da segunda aula. Ele não sabia, mas a professora do segundo horário também não viria naquele dia. Ele checa seu telefone: sem novas chamadas ou mensagens recebidas hoje, ou nas ultimas 3 semanas. Vai passando os nomes da agenda, quando um o chama a atenção. Ele se pergunta se deveria ligar..

" - Alô?  Alô??  Quem fala?
 - Oi.
 - Oi, guilherme, tudo bem? Pensei que o telefone estava mudo..
 - Bem, eu não sabia se deveria ligar.
 - Por que?
 - Ah, não sei. Por que? Eu não deveria?
 - Eh.. você ligou para dizer alguma coisa especificamente?
 - Acho que não.. Eu devo desligar então?
 - Talvez seja melhor. Nos falamos depois então.
 - Tudo bem.
 - Tudo bem?
 - Tudo bem.
 - Bom, tchau então.
 - Tchau."

Ele então decide não ligar. Guarda o celular e continua sentado lá, esperando, querendo apenas ir para casa.
" - A culpa não é minha, quero dizer, a causa sou eu, mas não era minha intenção. Sei que sou desagradável, desconfortável e causo estranheza nas pessoas. Eu sinto que quando chego perto de pessoas alguma coisa fica um pouco pior. É como se eu tivesse uma aura negativa. Mas isto não é totalmente uma escolha consciente minha sabe?
 - Confuso né. Eu concordo com você, mas também não sei explicar porque você causa isto.
 - É engraçado você ter me dado um caderno dos Beatles de aniversário.
 - Por que?
 - Geralmente, as humanas as quais eu realmente me interessei, me deram cadernos de presente. Cheguei a pesquisar o significado de um caderno dado de presente, mas nunca encontrei. É claro que com o tempo eu descobri que significa algo como 'Eu não tenho nada contra você, só prefiro que você esteja a alguns quilômetros de distância, entende?'.
 - Sério? Você já ganhou cadernos assim? Foi mais ou menos isto mesmo que pensei quando te dei o dos Beatles no seu aniversário. Eu só estava lá por "obrigação".
 - Pois é, há uns anos atrás tinha uma humana, bem eu acho que ela era humana, que eu gostava e cheguei a escrever uma carta pra ela. E ela respondeu me mandando uma carta com um caderno de caligrafia em anexo.
 - Ah, deve ser porque ela pensou que a sua letra era a parte sua que tinha maior potencial, mesmo sendo absurdamente horrível.
 - Talvez sim. De qualquer forma, depois disso ela viajou para a antártica e, como não existe serviço de correio lá, eu perdi totalmente o contato com ela.
 - É uma pena, mas você mereceu.
 - Eu sei.
 - Eu acho que a professora do segundo horário não vem.
 - Pois é, ela está atrasada. Vou ficar mais alguns minutos aqui e se ela não chegar vou embora.
 - Você sabe que eu não sou humana, e eu não gosto de você, né?
 - Já desconfiava.
 - Acho melhor você parar de falar comigo. Mesmo que eu gostasse de você, e eu não gosto, eu não vou ficar aqui por muito tempo. Em breve estarei indo para a Califórnia. Sério, recomendo você ficar longe de mim.
 - Com certeza, seria o mais sensato. Eu também não gosto de você. Eu não gosto de ninguém pra falar a verdade. Essa coisa de "gostar" é algo muito humano e nunca me levou pra lugar nenhum, exceto o fundo do poço. E quase que eu morri atropelado pra chegar lá. Chegando lá, só depois de 2 anos infernais eu consegui sair. E não sou humano também. Eu sou um robô, e mesmo assim tenho muito mais sentimentos do que a maioria das humanas que vejo por aí. Mas sei lá né.. Acho que vou continuar fazendo as coisas do jeito que sempre faço, mesmo sabendo o final. .
 - Você quem sabe.. mas não diga que não avisei.
 - Gostei de conversar com você. Você é sincera. Tomara que você fora da minha cabeça seja assim também.
 - Tá.. tanto faz..
 - Acho que vou indo então. Esta professora não vai chegar mais. Vou aproveitar que amanhã tenho dentista, tenho que acordar cedo então vou chegar mais cedo em casa e dormir mais cedo.
 - É, vai lá.
 - Tchau, vejo você em breve, quando você for lá em casa de novo.
 - Tá bom, mas eu não vou lá por sua causa. E vou preferir ir em um dia em que você não esteja lá."

Ele guarda os cadernos e vai para casa. Chegando lá fica escrevendo um post enorme no blog até depois da meia noite, tem algumas dificuldades para dormir. No dia seguinte acorda com muito sono e cansado. Será um longo dia. Mas isto é uma outra estória.

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