sexta-feira, 29 de julho de 2016

Celibato

Celibato era um jovem que não conseguia trabalhar direito com tanto barulho na cabeça.
Celibato tinha um relógio que sempre marcava a hora errada.
Celibato bebia três copos de café de manhã, quatro de tarde e dois de noite, para não atrapalhar seu sono.
Celibato gostava de usar meias de cores diferentes.

Ele estava sempre solitário, sempre. Mas raramente estava sozinho.
Era tanta gente ao seu redor, pessoas que falavam outra língua, comiam coisas horríveis e viviam arremessando fezes uns nos outros.
Ninguém arremessava fezes em Celibato, pois o mesmo asco que ele sentia das outras pessoas, as outras pessoas sentiam por ele.
Mas, ele era obrigado a ficar vendo aquela guerra de fezes o tempo todo.
E aquilo o estressava cada dia mais.

Celibato era apaixonado por uma garota, que parecia exatamente igual a todas as outras pessoas que ele conhecia.
Depois de um bom tempo obcecado, sempre tentando esconder e pensar em outra coisa, mas falhando, ele se declarou para ela.
Ela defecou na mão, olhou para as fezes e olhou para Celibato com um olhar triste.
Estendendo as mãos cheias com excrementos densos e quentes, disse a ele:
"Celibato, o que é isto para você?"
"Hum, são fezes?"
Ela então deixou as fezes caírem no chão e olhou novamente para Celibato.
"É uma pena", disse ela, e então passou a mão no rosto de Celibato.
"É realmente uma pena, Celibato. Espero que entenda a situação".
A garota então deu meia volta e voltou para uma guerra de fezes bastante acalorada que estava acontecendo do outro lado da rua.

No dia seguinte, Celibato adentrou em uma selva para poder passar um tempo sozinho.
Andou dez metros, escorregou em uma irregularidade, bateu a cabeça em uma raiz e fraturou o pescoço.
Ficou inconsciente por 50 minutos e então morreu.

Algumas pessoas conheciam Celibato.
Todas elas sabiam que ele não era um cara normal.
Na verdade, todos esperavam que a qualquer momento, Celibato fosse iniciar uma grande viagem ao redor do mundo sem avisar a ninguém.
E foi isto que todos pensaram que havia acontecido.
Nenhuma dessas pessoas se questionou onde ele estaria, e todas elas se esqueceram completamente da existência de Celibato após algum tempo.
O corpo de Celibato se decompôs completamente, e jamais foi encontrado por nenhuma civilização futura.

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