segunda-feira, 31 de março de 2014

O ponto de ônibus do deserto.

Prólogo:
Quando ele chegou no ponto de ônibus, ninguém diria que aquele lugar se tornaria o deserto que é hoje.
Era um dia agradável na cidade. Bastante movimento nas ruas, mas as pessoas não pareciam más ou estressadas.

I:
O andarilho solitário pegou suas coisas e colocou na mochila, caminhou até o ponto de ônibus e começou a esperar. Tinha bastante gente naquele ponto, ele esperava que o ônibus não fosse demorar.
O tempo foi passando, outros ônibus passavam e coletavam as pessoas que estavam no ponto. "Não é o meu ônibus" ele pensava.
Mais pessoas chegavam e o ponto enchia novamente. O ciclo ia se repetindo: o ponto enchia e esvaziava, enchia e esvaziava...
O tempo foi passando e passando, o andarilho estava ficando frustrado com aquela demora, estava ficando tarde e a cada ciclo, menos pessoas enchiam o ponto de ônibus.
Passaram-se horas, dias, meses, anos. Aquela cidade que o rodeara já não existia mais.
Todos haviam ido embora e ele estava preso naquele deserto.

II:
Ele já não sabia onde estava indo, porque estava esperando o ônibus, qual ônibus estava esperando. Mas permanecia de pé, sob a sombra do ponto de ônibus que era a única estrutura artificial visível em todo o horizonte, de resto composto apenas por areia, dunas e montanhas sem qualquer sinal de vida.
Ele resistia bravamente aos dias, noites, tempestades de areia e qualquer condição climática severa que viesse daquele deserto.

III:
A partir de uma certa noite, o dia não nasceu mais. Até mesmo o sol e as luas haviam desistido daquele planeta que vagava sem rumo e sem órbita pelo vazio imenso do universo. As estrelas foram lentamente sumindo do céu, não havia mais qualquer luz.

IV:
O andarilho solitário já nem sabia mais quem era. Estava exausto, com frio, não enxergava nada há anos. Ele já não queria mais pegar ônibus nenhum. Resolveu abrir sua mochila pela primeira vez em tanto tempo, ele já não sabia o que havia colocado lá.
Encontrou uma lanterna, uma garrafa com água, uma toalha e um saco de dormir. Se perguntou se havia possibilidade de ele já saber o que estava por vir quando foi para o ponto de ônibus há tantos anos atrás. Não se lembrava.
Iluminando a região com a lanterna, bebeu um pouco da água, estendeu o saco de dormir e se aconchegou lá, usando a toalha como travesseiro. Dormiu, aproveitando a escuridão e o vazio que o cercariam pelo resto de sua vida e para toda a eternidade além.

Nenhum comentário: